sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu vou justificar meu voto!

Não, eu não estarei viajando no próximo domingo. Estou agora, mas voltarei a tempo para poder votar. O caso é que, nestas eleições, não dá para votar sem antes fazer uma justificativa, quase um mea culpa, pela escolha feita. E isto é particularmente especial neste segundo turno, quando o bicho vai pegar ou o bicho vai comer — não adianta ficar, nem correr; ou seja, não adianta votar ou anular.

Foi-se o tempo em que votávamos pelas idéias, pelas ideologias partidárias, pelas bandeiras dos candidatos. Eu me lembro da campanha de 1989. Ainda tenho as fotos que tirei de Lula, quando veio a Conquista. Fotos em preto e branco, bem adequadas ao sentimento que tínhamos naqueles tempo. Nós sonhávamos com uma revolução, uma transformação política, vinda de um partido que representava tudo de bom e ético que defendíamos, diante de uma política corrupta e corrompida.

Eu me lembro que eu acompanhava o noticiário político e econômico desde muito cedo e uma coisa sempre me chamava a atenção: todas as notícias sobre corrupção nunca citavam o nome do partido do envolvido na denúncia. Na época, não havia Internet nem outro meio de consulta rápida, mas eu procurava em jornais ou outros meios os nomes dos partidos envolvidos em denúncia. Eram quase sempre partidos de direita, ligados à antiga Arena, o partido dos milicos. O PT quase nunca aparecia nestas denúncias. Bem, dirão hoje aqueles que o criticam: eu governava quase nada, umas poucas cidades. Mas não era somente por isto. Eles também defendiam a ética como principal bandeira do partido.

Eu voltei em Lula em 1989, campanha em que a Globo passou o rodo nas pretensões do PT de governar o país. Votei em Lula em 1994, quando Itamar Franco praticamente deu de bandeja o governo a FHC, dando-lhe o crédito por um projeto econômico surgido nas estruturas burocráticas do Banco Central e pertencente à sua gestão. Votei em Lula em 1998, quando FHC escarrou em nossas caras o medo dos brasileiros de perder o sonho dourado da estabilidade econômica, quando na verdade estávamos falidos e mal pagos (Se tiver tempo e interesse, leia este muito bem escrito texto). Votei em Lula em 2002, quando havia caído a máscara do príncipe dos sociólogos — se eu fosse sociólogo, detestaria este título dado ao FHC. Votei em Lula em 2006, ainda sem saber ao certo o que significava o mensalão: um fato ou um novo golpe à la 1989. Descobri depois que não era só fumaça, mas havia muito fogo dentro daquele partido que eu julgava ético e honesto.

Não quero escrever sobre todos os 'escândalos' envolvendo o PT, o DEM, o PSDB e o PMDB. Todo mundo já os conhece, apesar de que nunca saberemos até onde vai a verdade e onde entram a Globo, Veja etc., etc. Para mim, uma denúncia bem fundamentada é o suficiente para estragar todas as laranjas do cesto petista. O PT tem se envolvido em denúncias e isto foi o suficiente para que eu me sentisse traído e revoltado enquanto homem e cidadão. Os outros três partidos (e suas repartições em legendas menores) sequer podem sair para o ataque, historicamente corruptos que são. Sujos não deveriam falar de mal lavados. Mas eu posso! O PT não me representa, porque tenho princípios de ética, antes de ter princípios políticos. Não quero passar uma procuração política para aqueles que podem utilizá-la para aparelhar o estado, comprar deputados ou desviar verbas.

Por outro lado, tenho ódio político (para separar este do ódio pessoal, se for possível) de tudo o que representa o PSDB. Vivi todos aqueles anos terríveis de FHC, que, sobre o legado da estabilidade, nos impôs uma recessão que matou minhas esperanças de entrar no mercado de trabalho logo após a conclusão de meu curso. Eu ainda me lembro das canalhices deste velho político, que chamou aposentados de vagabundos, enquanto estava ele próprio aposentado. Eu ainda me lembro do golpe e da indecência da reeleição, quando FHC comprou o congresso, enquanto a imprensa, com a liberdade que lhe dada, ficava calada. Eu não me esqueço dos juros estratosféricos, que impediam o crescimento do país, para financiar sua política deficitária. Eu me lembro até de coisinhas menores, mas não menos importantes para mim, como a correção da tabela do IR, nunca feita pelo príncipe dos sociólogos, por conta de sua sanha arrecadadora. Não dá para esquecer o PSDB — não mesmo!

Acontece que agora não dá para ficar, não dá para correr. E a questão que se apresenta é a seguinte: votar no sujo ou votar no mal lavado? Não adianta: nossos princípios de certo e errado não vão ajudar em nada. Anular o voto, única alternativa aparente para a ética e a honestidade, equivalerá a ajudar um ou outro. Neste sentido, discussões sobre suas escolhas soam tão miseravelmente desonestas quanto o PT/PMDB ou o PSDB/DEM. Argumentos políticos soam tão sensatos como Maquiavél e seus conselhos terríveis.

Portanto, nestas eleições, justificar o voto, ou seja, torná-lo justo, só é possível se você não puder votar. Se puder votar, você terá que votar, sob pena de aumentar a vantagem de votos válidos ao sujo — ou ao mal lavado. É pensando em mágoas antigas, e não nas novas, que votarei mais uma vez no PT. Votarei com raiva, votarei com certo asco, mas terei que votar. Somente porque não há alternativa válida, que votarei em Dilma. Não posso justificar isto, com tentei argumentar. Mas quero registrar aqui que voto tão indignado quanto poderia estar.

Mas do que nunca (... na história deste país?), os homens bons da sociedade têm deixado os homens maus governá-los. Até quando, Senhor?

2 comentários:

Quefren Janine disse...

Você está certissimo Marcelo...não vivi os tempos tão absurdos de FHC, mas vejo o que aconteçe na politica hoje e é realmente lamentavél...ter que escolher entre o menor dos males para nos governar!!!

quefren janine disse...

Gostaria só de retificar que quando disse que não vivi os tempos de FHC...quis dizer que era criança...não me preocupava...acho que nem sabia direito o que era politica!